Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura,
ché la diritta via era smarrita.
Capinha sinistra! Aquele demônio rindo ali atrás me dá até arrepio!
Assim, bem desiludido da vida, Dante Alighieri começa sua obra mais famosa: A Divina Comédia (que só ganhou esse ‘Divina’ depois, graças ao fã nº 1 de Dante poeta italiano, Giovanni Boccaccio). E aqui já vão quatro avisos importantíssimos aos navegantes:
1) Pra ler esse livro tem que ter disposição, pra entendê-lo tem que ter habilidade eu venho te falar que são cinco velocidades hahaha. Afinal, são trinta e três cantos (isso mesmo, poemas)
2) O livro é grande, a resenha também (quer resumo? vai ler “Inferno”, do Dan Brown . Tem uma resenha minha desse livro, lá no Bebida Cultural)
3) Não sou filósofa, teóloga ou formada em literatura italiana. Então não espere uma discussão profunda do tema. A ideia aqui é trazer minhas impressões pessoais (e irônicas) sobre esse livro tão mundialmente famoso.
4) Se você não curte ou não sabe muito sobre a) Mitologia , b) História Italiana -desde os primórdios de roma até o século XIV – ou c)O Contexto político-social em que o autor viveu na Italia medieval, a frase escrita em cima da entrada do Inferno é direta e reta para você:
“Deixai toda a esperança, vós que entrais”
É, meus caros. Infelizmente Dante não é um livro democrático. É bem difícil de entender em alguns momentos. Mas eu JURO que a história toda compensa DE-MAIS!
Então, vamos dar um desconto que, naquela época (entre 1304 e 1321) pouquíssimas pessoas sabiam ler e, os que sabiam, eram eruditos, bem-nascidos e conheciam bem mitologia grega e teologia uma panelinha podre de rica e briguenta, que vivia (e se matava) numa Itália ainda muito longe de ser unificada.
Ou seja, Dante não tá nem aí se você (eu, no caso) em pleno século XXI não sabe quem foi Faetonte, ou Ariadne, se você não sabe calcular que horas são a partir das estrelas (faz milhões de referências a horário e épocas do ano com constelações, posição do Sol e solstícios/equinócios) . Ele simplesmente parte do pressuposto que o leitor entende tudo isso e vida que segue…
Bom, chega de enrolar e vamos ao que interessa:
A Divina Comédia é um poema em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. E ler todas elas em uma única semana foi TENSO! Mas a experiência foi de amor e de encantamento crescentes por essa história, que venceu sete séculos e está aí, para quem tiver interesse em fazer a “viagem espiritual” junto com Dante.
Como eu disse lááá em cima, o autor está desiludido na sua vidinha, não tá legal, ele foi exilado da sua amada terra natal – Florença ❤– e está pra lá de desgostoso com a humanidade, etc etc.
Por isso ele se encontra em uma “Selva Escura” (a perdição dos pecados que não te deixa ver o caminho certo), e de lá só vai conseguir sair se passar pela experiência de ver seus erros (as três feras – loba/fraude, leão/violência e onça ou leopardo/incontinência) não mais como obstáculos externos, e sim como vontade de Caos e Morte dentro de si.
Ou seja… a saída é dar uma voltinha no inferno. viagem mórbida, hein?
É aí que entra Virgílio (para os leigos, o poeta romano autor de Eneida), chamado por Beatriz – amor de Dante – e Santa Luzia para guiar o italiano pelos nove círculos do Inferno e pelo monte purgatório. Particularmente eu adorei o Virgílio de Dante. Ele é firme e inteligente todo o tempo.
INFERNO
Para encurtar o texto aqui, senão vai virar bíblia, o Inferno é uma descida literalmente sinistra, que conta com nove círculos em espiral (representando a queda de Lúcifer, expulso do céu por Deus). Quanto mais descemos, mais graves os pecados – e piores os castigos! Achei essa imagem SUPER legal que define muito bem cada ciclo, o pecado correspondente e o que sofrem as almas ali presas (caso não entenda, tem um texto que explica tudo no La Parola):
Clica com o botão direito pra abrir em outra página e ler direito!
À medida que vamos descendo (Dante, Virgílio e leitor), encontramos figuras históricas e mitológicas. Os pagãos ilustres do Limbo como Platão e Aristóteles (que morreram sem pecar, mas estão ali no Inferno porque não foram batizados), os líderes de Bolonha, Florença, Siena e cia. que colhem os frutos amargos de sua luxúria, gula, ganância, ira, heresia, violência, fraude e traição.
Essa, pra mim, é a parte mais legal. Porque temos Papas envolvidos aposto que a Igreja adorou isso. sqn, os castigos são tão lógicos e bem descritos que te dá até medo e é aí que está a maior carga de ação da narrativa toda. pronto falei.
E descendo, descendo ficamos cara a cara com Lúcifer, no nono e último círculo, que com suas três cabeças prende de um lado Judas, e do outro Brutus e Cássio, responsáveis pela morte de Júlio César. É aí que chegamos ao centro da terra e começamos a subida em direção às estrelas, à saída do inferno e à ilha do monte purgatório.
PURGATÓRIO
Assim como o inferno tem hierarquia de gravidade para os pecados e punições, o monte purgatório tem níveis de penitência para que as almas se livrem dos seus maus passos e alcancem o paraíso.
Simples assim: Se o Inferno está no centro da Terra, e o Céu está acima das nuvens…o Purgatório é a escada em espiral ascendente que liga os dois. Aqui também são nove zonas de purgação, duas delas estão antes da entrada propriamente dita (e são guardadas por um anjo). E quando você chega na ilha, haja fôlego para escalar a montanha!
Também achei uma imagem (não tão legal quanto a do inferno, mas tudo bem) que representa os estágios dessa subida:
Aqui a ordem dos pecados é invertida, então a luxúria, por exemplo, que está no 2ª círculo do inferno, está no 11º patamar.
O que me deixou mais lerda na leitura, e bem menos empolgada, é que no Inferno a história é mais dinâmica: Dante encontra o pecador e a recompensa pelo seu ato errado (te dando aquela sensação tipo: Bem-feito. Se fode aí, Kirido). Já no Purgatório fica aquela subida interminável de gente e suas penitências, mas a recompensa tá lááá em cima, que é o encontro de Dante e sua amada (e chatinha) Beatriz, no Paraíso.
PARAÍSO
Essa parte é o ápice da viagem toda, onde o Céu/Paraíso é dividido em duas partes: Material (que também tem nove círculos. Fixação com nove? É aquela de 3 x 3, sabe…) e Imaterial.
Aqui Virgílio já saiu de cena (Dante se despede dele no último círculo do Purgatório, e é levado por um anjo através do fogo que separa a montanha do paraíso) e entra Beatriz, a mulher por quem Alighieri morria de amores e que morreu jovem, blá blá blá
É assim que a gente fica, mas esse amor deles é muito celeste pro meu gosto ¬¬
Aqui os nove círculos são formados pelos sete “planetas” (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno), o céu das estrelas fixas e céu cristalino, que é o último nível da matéria. Continua viajando que não acaba aí…
Nesse paraíso terrestre, Beatriz olha para o sol (OI? Kátia Cega) e Dante a acompanha (cegos guiando cegos) até que ambos começam a elevar-se, “transumanando”. Guiado por Beatriz, Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra personagens como São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano.
Chegando ao céu de estrelas fixas, ele é interrogado pelos santos sobre suas posições filosóficas e religiosas. Depois do interrogatório, recebe permissão pra continuar. (Dorme não!)
Céu das estrelaszzzzzzzzzz
No céu cristalino Dante adquire uma nova capacidade visual, e passa a entender o mundo espiritual, onde ele encontra nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em volta de Deus.
Lá ele recebe a visão da Rosa Mística, se separa de Beatriz achei sacanagem. Eles nem viveram seu amor ali e tem a oportunidade de sentir o amor divino que emana diretamente de Deus, ” l’amor che move il sole e l’altre stelle”.
(quando eu FINALMENTE cheguei nessa última frase, me deu uma sensação gigante deja vu. Foi aí que eu lembrei que, sem NUNCA ter lido Dante, meus melhores amigos da faculdade começaram a homenagem a mim pro convite de formatura com essa frase. Destino que chama, né?)
Pra finalizar, eu digo que AMEI a Divina Comédia, principalmente o Inferno! Se você teve paciência de ler até aqui, pegue os três volumes da obra e leia! A gente sai mais culto, mais pensativo sobre as coisas da vida e entende muitas inspirações de filmes/livros/games, que vieram MUITO depois de Dante. Isso demonstra a força literária que ele representou e ainda representa.